Velhos corpos em novas roupas.
9 de Novembro de 2010 1 Comentário
Para ilustrar melhor o que pretendo dizer vou criar uma histórinha.
Personagem : João(claro, poderia ser outro exemplo?)
João descobriu uma máquina do tempo, e com ela resolveu fazer um experimento, viajar no tempo para entender o porque as coisas são o que elas são.
João foi pensou:
… No meu país a revolução recente mais importante foi a ditadura militar.
Ligou sua máquina e foi para lá.
Chegando lá, joão pensou…humm vou conhecer uma escola.
Chegando lá alguns minutos depois que a aula começou, bateu na porta e disse:
– Posso entrar?
E a professora com uma cara de bruxa disse:
– Entre e fique de costas pra lousa.
E joão levou um monte de palmada na bunda.
Chorou, chorou e resolveu ir reclamar para a diretora da escola:
– Aquela professora acabou de me deixar com a bunda roxa!
A diretora disse:
– Não fale mais uma palavra.
E João saiu andando…
Na rua João decidiu procurar um lugar para se divertir e esquecer o evento chocante que viveu, viu alguns músicos cantando e resolveu se juntar.
Derrepente, chega um grupo de militares, bate um pouco nos músicos e leva-os para uma delegacia próxima. Ficam ali 3 dias, comendo pão mofado e agua do vaso sanitário. A cela é pequena e eles são em 8 pessoas. São libertados no final do 3ºdia com o aviso de que se forem pegos de novo, poderão não ter a sorte de sair dali.
João resolve sair para andar um pouco pela cidade, povoada de homens cheios de uniformes, olhando para todos os lados, João avista uma biblioteca, chegando lá a porta está fechada. Não existem telefones que funcionam, as cartas eram abertas antes de serem enviadas, e ao anoitecer, a rua estava vazia, pálida.
João entra num beco escuro, e encontra lá LOLA, uma prostituta.
JOÂO pergunta para LOLA, como ela sobrevive à esses tempos difíceis, ela reluta em mexer os lábios. JOÃO olha em seus olhos e diz:
– Eu venho do futuro…não sou um desses pode confiar em mim.
Ela sedenta por uma oportunidade de pelo menos pensar alto, fala:
-Não tenho onde morar, não tenho o que comer, para continuar viva tenho que ser escreva desses abutres fardados, já fui professora, até que um dia disse em minha sala : – Não cedam, gritem, façam uma guerra ou eles jamais nos deixarão livres, e um dos alunos é filho de um General, e me denunciou, perdi minha casa, meu emprego, me colocaram dentro de um carro e me jogaram nessa cidade que desconheço, sou marcada, todos sabem quem sou, me chamam de puta, pareço puta e sou puta, a puta deles.
Uma lágrima seca e curta cruzou seu rosto, e ela saiu, ai ve-la atravessar a rua, joão notou que um veiculo de escolta se aproximou e nele ela entrou.
João preferiu daquele tempo fugir, e prosseguir sua jornada no tempo.
Queda da ditadura militar.
Estava lá,o golpe havia terminado, via-se nos olhos dos milhares que acompanhavam um semblante de vitória dolorido. A liberdade havia sido massacrada de forma tão pungente, que joão desconfiou que ali, as pessoas iriam recomeçar. Iriam querer falar.
Diretas já.
Todos queriam, escolher quem estaria lá no poder, uma onda de animação tomou conta do povo, e operários de grandes metalúrgicas junto com artistas defendiam um regime social e democrático, todos falavam e pediam.
Um militante de um determinado partido passou perto de joão, e joão foi falar com ele, perguntando:
– O quanto vale a sua voz e o que ela pede?
o militante empolgado disse:
– Minha voz não vale nada, a nossa vale, peço para que os meus netos e os nossos netos, não precisem apanhar como se fossem touros de rodeio, peço para que eles como os filhos dos poderosos, possam estudar e dedicar seu tempo ao estudo, pq eu não pude, e duvido que um dia vá poder. Peço que possamos andar pelas ruas a noite com nossas namoradas olhando o céu e que por fim, deixemos de ser escravos dos projetos dos outros, e sejamos donos dos nossos.
João replicou:
– Isso é possivel?
O militante disse:
– Com as ferramentas e a dificuldade que nós temos hoje de nos comunicar e agir em conjunto, o máximo que podemos fazer é derramar sangue e destruir algumas cidades. O sistema não está mudando, estão apenas cedendo a tensão internacional, isso que está sendo feito por mais incrível que pareça, não é para o povo. querem nos manter longe, sempre vão querer um muro, mas um dia iremos derrubar esse muro.
Depois de ouvir isso, João resolveu ir para o momento em que caia a chão ao muro de Berlin.
Como não podia entender o que falavam, João apenas observou o grande fluxo de pessoas passando de um lado para o outro, mirou seu olhar para uma senhora de muitos anos sentada entre um pedaço de muro olhando os dois lados, ela ficou lá, sem expressões no rosto, por horas a fio, vendo o mesmo que João via, quando ela se levantou e pegou um pedaço de fio de uma cerca elétrica e passou nele sua língua, e sorriu.
João voltou a viajar no tempo, dessa vez foi as ruínas de Hiroshima, anos após sua destruição, ela estava vazia, cinza e empoeirada, andou pelos restos da cidade e não viu ninguém, nem bicho, nem gente. Ali parou, respirou o ar que ainda era pesado, e sentiu falta do barulho.
Por muitos lugares viajou João, com muitas pessoas conversou, viu o monte de cabeças empilhadas na frança, casas de barro cercadas de terra seca na África iguais as que viu no nordeste do Brasil. Viu as pessoas correndo com ar de desespero e medo em Nova York, Viu Indios chorarem a morte de sua arvore favorita. Viu um casal de homens morrerem às pauladas, viu mulheres sendo presas em casa por seus maridos, viu crianças alimentarem enormes fornalhas de carvão, viu animais que já não podemos ver, mas, além de tudo viu muita luta e insatisfação nos olhos quietos. João viu tanto que preferiu parar de viajar, e voltar para sua casa.
Chegando lá João escreveu:
Velhos corpos em novas roupas.
Conectados queremos estar
Quero a tua dor e quero partilhar da minha.
Preciso de resposta quando te pergunto.
Tirem das nossas salas os muros.
Das nossas casas as cercas.
Existe um meio, já podemos falar.
Precisamos de tempo pra nos viver.
Precisamos nos aproximar.
Temos pouca agua pra beber.
Muito lixo pra reciclar.
Cansei de ver morrer, quem só quer viver.
Precisamos nos aceitar.
Na música e na arte, não há o que temer.
Deixe o povo falar, deixe o povo cantar.
A consciência é fragil.
O subconsciente relaciona eu de ontem, eu de hoje.
Tudo é visto, ouvido e gravado.
Não faça de conta que ignora, tudo é registrado.
Existem coisas por acabar em alguns dias.
Chega de devastar, precisamos recompensar.
Porque ignorantemente não souberam usar.
Abram os ouvidos e usem a voz.
Deixem os usar.
Aproxime as distâncias, podemos voar.
Podemos ver um muito do que era tão pouco.
É só querer enxergar.
Não está satisfeito?
Você não tem que aceitar.
Vamos, vamos infectar esse mundo pelo menos uma vez.
Com uma praga boa é só pulverizar.
Chega de bater, podemos nos abraçar.
Jogue seus rótulos fora, somos todos um só.
A casa é grande, a terra é farta.
Precisamos dialogar.
Pra que 900 sapatos pra dois pés?
Pra que 20 banhos pra um corpo?
O mundo não quer ser Puta meu bem.
O mundo quer ensinar.
Roupas novas não mudam velhos corpos.
Chega de camuflar.
João, 9 de novembro de 2010.